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As 12 Camadas

As doze camadas da personalidade humana e as formas próprias de sofrimento

Por OLAVO DE CARVALHO

As 12 Camadas

Introdução

A camada é a síntese da personalidade, portanto, cada passagem de camada a camada é uma mudança da personalidade inteira. Ou seja, o conjunto adquire uma nova forma sem alterar suas partes. A cada mudança, o todo só pode mudar em relação a algo que lhe é interno, no caso, externo à personalidade, e em relação ao qual esta assumirá diferentes posições no percurso da vida. Portanto, o valor das partes começa a mudar e deve haver algo que muda a valoração desses vários traços, mantendo a estrutura de base intacta, como se fosse uma máquina que, permanecendo a mesma, serve a várias finalidades.

Esse algo em relação a que ocorre a mudança da personalidade é um novo objetivo de vida, um ponto focal de energia durante uma fase em que o indivíduo se esforça para alcançá-lo. Em cada passagem de camada, o que muda é o fim, o propósito ao qual se dirige a totalidade da personalidade. Esse propósito é sempre diferente em cada época e não faz parte da estrutura da personalidade — faz parte de um desenvolvimento ideal ao longo da vida, um esquema temporal do ser humano. Assim, a camada dá a finalidade ao ato, e este só pode ser explicado por sua finalidade.

A Teoria das Camadas só pode ser entendida em termos de autoconsciência; cada nova camada é um novo padrão de autoconsciência. A consciência só se entende se for considerada um valor, uma possibilidade humana que não se realiza automaticamente; somente quando é aceita como valor e perseguida, buscada, desejada, ela se desenvolve.

As camadas da personalidade correspondem a uma divisão cronológica – ou, pelo menos, a uma escala ideal de evolução – e cada camada abarca toda a personalidade concretamente. Toda divisão cronológica não separa partes do ser, apenas etapas do tempo; subentende-se que o ser existe concretamente em cada etapa e se concreciona no tempo e no espaço.

As camadas podem ser Integrativas — que fecham a personalidade em um quadro definido: 1, 2, 5, 6, 8, 11 — e Divisivas — que abrem a personalidade para influências externas, rompendo o equilíbrio anterior: 3, 4, 7, 9, 10, 12. Até a camada 8, todas estão presentes em todo adulto normal, segundo Gaston Berger.

CAMADA 1 – Caráter (Integrativa)

O corpo é a precondição da personalidade; é “anterior” à personalidade, pois já está pronto ao nascimento, enquanto a personalidade resulta do esforço de existenciação por absorção dos elementos.

CAMADA 2 – Hereditariedade (Integrativa)

A hereditariedade, constituição, temperamento e estrutura pulsional são condições para o corpo adquirir existência concreta. Aqui entram influências “externas” que favorecem ou obstam a realização do indivíduo. O recém-nascido pode sofrer do impacto de condições físicas externas ou tendências de sua hereditariedade.

CAMADA 3 – Cognição, Percepção (Divisiva)

O processo cognitivo, sua evolução e etapas, introduz variação no quadro delineado pela hereditariedade: a aprendizagem depende da hereditariedade, meio ambiente, livre vontade e lógica do processo cognitivo. Ao penetrar nessa camada, entra-se um elemento de liberdade e indeterminação. Os sofrimentos aqui são relativos ao sucesso ou fracasso do aprendizado, que, por seu ritmo rápido, não deixam traumas duradouros, pois a evolução os supera.

CAMADA 4 – História Pulsional e Afetiva (Divisiva)

O padrão afetivo deriva das experiências vividas, que, cristalizadas repetidamente, originam circuitos sadios ou neuróticos. O sofrimento da camada 4 surge da descoberta da felicidade ou infelicidade; demandas afetivas não resolvidas geram necessidades adultas insaciáveis, muitas vezes requerendo psicoterapia.

CAMADA 5 – Ego, Autoconsciência e Individuação (Integrativa)

Na adolescência, delimita-se o espaço vital pela autoconsciência. Sofrimento aqui advém da decepção com a própria capacidade: não basta ser amado, mas ser capaz de conquistar algo. O problema passa a ser autojulgamento, não mais afetivo. O sujeito centra a satisfação na demonstração de poder pessoal — a não superação dessa camada prende o indivíduo no autojulgamento.

CAMADA 6 – Aptidão e Vocação (Integrativa)

Distingue-se aptidão (inata) de capacidade (adquirida), mas só após a psicologia do ego. Chega-se à camada 6 quando a afirmação do poder pessoal cede lugar à obtenção de um resultado objetivo (por exemplo, trabalhar e receber salário). Aqui, sofrimento é prejuízo objetivo, não mais psicológico.

CAMADA 7 – Situações e Papéis Sociais (Divisiva)

O indivíduo desenvolve papéis sociais - conjuntos de expectativas recíprocas entre indivíduo e sociedade. Dificuldades nos papéis sociais geram frustrações, inibições e insatisfações, pois o ideal da camada 7 é ser aceito enquanto membro útil da coletividade.

CAMADA 8 – Síntese Individual (Integrativa)

Síntese provisória em cada etapa do desenvolvimento, propicia a primeira noção de personalidade global e estabilidade das tendências. Sofrimento nesta camada ocorre ao questionar a própria trajetória: “O que eu fiz da minha vida?”. O indivíduo julga a vida como totalidade, confrontando-se consigo mesmo, sem culpar ninguém.

CAMADA 9 – Personalidade Intelectual (Divisiva)

A partir da 8 é possível desenvolver a camada 9 - personalidade intelectual superior, gênio, criação artística, personalidade poética. Reflete dedicação a fins universais ou culturais, além dos papéis sociais comuns.

CAMADA 10 – Eu Transcendental (Divisiva)

Quando surge o problema da personalidade moral. O indivíduo assimila valores universais como obrigações, passando a responder por si mesmo como representante da humanidade, responsável por todos os próprios atos.

CAMADA 11 – Personagem (Integrativa)

O indivíduo se enxerga na História, julga seus atos no tribunal da Humanidade. A ação aqui ganha dimensão histórica; é consciência da posição no curso da evolução.

CAMADA 12 – Destino Final (Divisiva)

Referente ao sentido da vida diante de Deus e à responsabilidade moral última. O indivíduo pauta todos os atos pela finalidade suprema, transcendente, à semelhança de personagens como Gandhi, para quem a relação com Deus determina todas as ações.


Critérios de Reconhecimento

A passagem das camadas ocorre absorvendo os conhecimentos anteriores e orientando-os por novos princípios. Não existem “saltos” de camada; pode haver pseudo-passagem se o motivo de sofrimento permanecer na anterior. Não existe regressão de camada exceto casos patológicos. Em geral, só compreendemos as motivações daqueles na mesma camada ou em camadas inferiores.

Para entender em que camada está cada pessoa, é preciso saber qual a fonte de seu sofrimento. O desajuste é claro quando, na camada em que se está, age-se motivado por camadas anteriores. Cada camada absorve as anteriores e dá novo sentido à vida. Pergunte sempre: onde dói? É aí que está o problema real.


Sapientiam Autem Non Vincit Malitia

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